Autárquicas 2021 | Mafra – Entrevista com Luís Marinho [CDS-PP]

 

Jornal de Mafra – Quem é Luís Marinho?
Luís Marinho –
Sou pai de quatro filhos e essa é minha principal façanha. Depois, defino-me como oestino, e Mafra é oeste, embora administrativamente pertença à AML, algo que, para mim não faz sentido. Quando casei saí de Lisboa e vim para o oeste, que é onde estão as minhas raízes, já que a minha família se estende entre Mafra, Torres Vedras e Lourinhã. Uma família muito ligada aos moínhos e à parte agrícola.

Sou licenciado em gestão, tenho um mestrado em Economia e Políticas Públicas, estive sempre ligado à gestão em multinacionais e hoje tenho a minha própria empresa de formação e consultadoria.

Embora haja quem diga que não precisa da política para nada, eu preciso muito da política e o cidadão que suponha que não precisa da política está errado


Jornal de Mafra – É a primeira vez que é cabeça de lista numas eleições autárquicas? Qual é o seu percurso político?
Luís Marinho –
Em 2010, quando o governo socialista de José Sócrates fez a primeira grande investida sobre o modelo de educação que se baseia nos contratos de associação, o externato onde a minha filha andava foi um dos visados, e foi aí que começou a minha participação mais ativa, nessa altura ligada a um movimento de escolas, mas que me permitiu, através do contacto com diversos atores ficar mais consciente do valor da bandeira da liberdade de escolha pela educação, permitindo que as boas escolas não sejam só para quem pode ter esse privilégio.

Em 2010-2011 fui convidado por Paulo Portas e por Pedro Mota Soares, para a comissão política nacional do CDS-PP.

Deixe que diga que, embora haja quem diga que não precisa da política para nada, eu preciso muito da política e o cidadão que suponha que não precisa da política está errado, porque ela tem implicações diretas na nossa vida.

Jornal de Mafra – Conhece suficientemente bem o concelho de Mafra para se candidatar à presidência da sua câmara?
Luís Marinho – 
A minha postura parte sempre do princípio que sei muito pouco, mas tenho ideia daquilo que é o essencial para o concelho de Mafra.

Uma das coisas que está em causa no concelho passa por equilibrar aquilo que está desequilibrado. Mafra pode ser um bom sítio para se viver e não só para dormir. O que é essencial para Mafra, eu tenho bem desenhado na minha cabeça e conto também com a equipa do CDS de Mafra, que me tem ajudado bastante.

Alandroal, Caminha, Cartaxo, Nazaré, duas açorianas, Nordeste e Vila Franca do Campo e Vila Nova de Poiares e depois, só Mafra. Estes são os concelhos com a taxa máxima de IMI

Jornal de Mafra – O que destaca do seu programa de candidatura?
Luís Marinho – 
Vamos começar pelo IMI. Alandroal, Caminha, Cartaxo, Nazaré, duas açorianas, Nordeste e Vila Franca do Campo e Vila Nova de Poiares e depois, só Mafra. Estes são os concelhos com a taxa máxima de IMI. O que acontecerá em Mafra e nos outros sete concelhos, que não lhes permita estarem na média nacional em termos de IMI?

Jornal de Mafra – Porque está o IMI na taxa máxima em Mafra?
Luís Marinho – É uma opção política.

Jornal de Mafra – Na sua perspetiva a manutenção do IMI na taxa máxima não não está ligada a prioridades de gestão municipal?
Luís Marinho – Exatamente. Aparentemente, a pergunta seria, o que fazer para compensar a redução da receita que resulta da redução da taxa de IMI?  Mas, a pergunta certa não é essa, mas sim, saber que gestão fazem os outros concelhos, já que na taxa máxima, só há 7 concelhos no país.

Aquilo que propomos é o “cheque IMI”. Trata-se de uma medida de duplo efeito, baixar o IMI de uma forma progressiva e responsável ao longo de 4 anos e converter o valor dessa redução num cheque a ser utilizado no comércio tradicional local.

Li com muita atenção o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) de Mafra, mas aquilo não é um documento sério

Jornal de Mafra – Quer referir outros aspetos do seu programa para os próximos quatro anos?
Luís Marinho – Li com muita atenção o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) de Mafra, mas aquilo não é um documento sério. Àquilo, eu chamo “discos pedidos”.

Trata-se de uma lista de coisas não quantificadas, nem calendarizadas. Aquilo é para fazer num ano, em 10 ou em 30? De resto, no fim do documento há uma nota que diz “tudo isto está sujeito a que o dinheiro venha”. Se cada concelho do país fizesse este tipo de listas, não havia PRR suficiente para satisfazer toda a gente.

De qualquer modo, quando lermos a lista, perguntamo-nos logo, então e os esgotos? Como, por exemplo, em Santo Isidoro. Então e a  mobilidade? Vá ali a Palhais ou vá aos extremos do concelho e pense nos mais velhos, aqueles que têm problemas de mobilidade. Há dias, a brincar, disse que naquela lista de discos pedidos só faltava o Aeroporto Internacional de Mafra.

O PPR comporta 5 parques industriais, ora eu conheço concelhos muito fortes em termos industriais, como Aveiro, que têm um parque industrial. De facto o PRR de Mafra não é um documento sério e não teve a devida ponderação.

Jornal de Mafra – E as outras medidas do programa são…?
Luís Marinho – A Câmara Municipal referiu e bem, que o número de habitantes do concelho apurado nos recentes censos, não é real. Há mais pessoas a viver em Mafra, gente que ainda não está cá registada. No rescaldo desses números, o Senhor Presidente da Câmara aproveitou para dizer que ainda há muito espaço urbano para preencher. A pergunta que faço, é se será isso que as pessoas querem? Será de de apostar no desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam aqueles que cá residem e que cá trabalham, ou a ideia passará por criar uma Sintra2, ou uma Odivelas2, porque aquilo a que assistimos em Mafra é a uma pendularidade, as pessoas vêm cá dormir e vão trabalhar para Lisboa ou para outros sítios.

A visão certa não passa por criar mais espaços urbanos na Malveira, na Venda do Pinheiro ou em Mafra, passa sim, por garantirmos a identidade daquilo que Mafra é

Parece-me importante criar aqui as condições que permitam oma maior criação de emprego. Por exemplo, a agricultura é aqui muito retalhada, tem pequenas culturas e essa é uma oportunidade para criar em Mafra um cluster de agricultura biológica, uma atividade mais sustentável, que se dedica aos produtos que o mercado procura e que melhor paga sendo também uma modo de fixar pessoas ao território.

A visão certa não passa por criar mais espaços urbanos na Malveira, na Venda do Pinheiro ou em Mafra, passa sim, por garantirmos a identidade daquilo que Mafra é. Mafra faz parte da região saloia, que começava em Sintra e se estendia para Mafra e Torres Vedras, mas alguns iluminados fizeram uma divisão administrativa que criou a OesteCIM, a qual não inclui Mafra.

A OesteCIM tem uma equipa de trabalho a estudar a implementação do novo hospital do oeste, onde Mafra, naturalmente, não participa.

Se reparar, Mafra, Torres Vedras e Sobral de Monte Agraço fazem juntos, cerca de 180 mil habitantes, enquanto os outros, Lourinhã, Óbidos, Peniche, Bombarral, Cadaval, até a Nazaré, não chega a 170 mil. É no triângulo Mafra, Torres Vedras e Sobral, que mais faz sentido ter um novo hospital, uma vez que os outros estão mais perto das Caldas. Ora, Mafra não é tida nem achada nesta discussão, porque não pertence à OesteCIM.

Isto também é política, queremos estar onde? Porque depois não temos voz ativa onde devíamos tê-la.

Gostava ainda de aprofundar um pouco mais o tema da saúde, sem que isto constitua uma crítica à medida tomada em Mafra, que atribuiu 400 euros, salvo erro, a cada médico que viesse para cá trabalhar. Esta foi uma medida muito bem intencionada, mas que não atenuou o desequilíbrio que Mafra também tem nesta área tão importante para a nossa população mais idosa. Assim, propomos que a curto prazo, se majorem e diversifiquem os apoios aos médicos que decidam ficar a residir no concelho e que a médio/longo prazo se desenvolva uma política pública que fomente a “criação” de médicos mafrenses, influenciando os jovens do concelho que pretendem cursar medicina, para as vantagens de se manterem no concelho, uma vez terminado o curso. A pergunta certa aqui será, quantos alunos de medicina residentes em Mafra, se licenciaram este ano?

Tanto tempo de permanência no poder por parte de um só partido, não é saudável

Jornal de Mafra – Que olhar lança sobre a gestão continuada do PSD no concelho de Mafra ao longo destes últimos 36 anos?
Luís Marinho –
Albert Einstein tem uma frase de que eu gosto muito, “insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Aqui a coisa é semelhante, não estando em causa tratar-se do PSD, do PS ou do CDS, mas de facto, parece óbvio, que tanto tempo de permanência no poder por parte de um só partido, não é saudável.

Muitas das coisas que identificamos como grandes lacunas no concelho de Mafra derivam dessa permanência prolongada no poder. É normal que uma força que já está há tantos anos na Câmara Municipal de Mafra, já não veja algumas coisas que acontecem no concelho. Não porque sejam más pessoas, ou porque tenham más intenções, mas por já terem dificuldade em ver as coisas que estão menos bem.

Mafra, como outros concelhos, necessita de renovação, não só na câmara, como também na Assembleia Municipal, onde só uma cor tem voz e onde os outros, praticamente, não têm voz.

Aquilo que sugiro aos mafrenses, é que pensem na frase do Einstein, porque Mafra precisa de mudança.

Jornal de Mafra – Porque é que em Mafra, o CDS não concorre coligado com o PSD, como ocorre em tantos concelhos do país?
Luís Marinho –
É simples, porque em Mafra, o PSD não precisa do CDS.

Jornal de Mafra – Mas houve conversações?
Luís Marinho –
Eu não sou o presidente da concelhia, não me vou meter em terrenos que não são os meus, mas creio que tendo em conta a lógica que referi anteriormente e que há uma certa conceção de eternidade no poder por parte do Partido Social Democrata, nem sequer tenham ocorrido essas conversas.

Os novos partidos que surgiram à direita, algumas das suas ideias foram tiradas a papel químico de algumas bandeiras do CDS

Jornal de Mafra – O recente aparecimento de 2 novos partidos da direita poderá levar a uma alteração da correlação de forças no concelho de Mafra?
Luís Marinho –
Bom, isso é como os melões, só se sabe depois de abrir, mas certamente que terá. Embora as alterações que podem ocorrer, não sejam só à direita. Por exemplo, há concelhos do Alentejo, onde muitos votos comunistas estão a ir para outros partidos.

Os novos partidos acabam por dividir eleitorado, mas qual será a expressão disso, eu não sei. Algumas das suas ideias dos novos partidos que surgiram à direita foram tiradas a papel químico de algumas bandeiras do CDS.

Jornal de Mafra – Talvez porque são mesmo constituídos por muita gente oriunda do CDS?
Luís Marinho –
Talvez. Assumo que sim. Há um desses partidos, que no curto prazo pode causar algum dano no CDS, mas isso poderá ser a melhor coisa que acontece ao CDS, a médio e a longo prazo, porque agora ficou claro, quem são aqueles que têm um discurso humanista e ponderado e quem tem um discurso irresponsável e de ódio. A curto prazo será pior para o CDS, porque as pessoas estão um pouco iludidas, mas servirá para separar águas.

Jornal de Mafra – Portanto, não se corre o risco de, ao fim do dia, já não haver CDS?
Luís Marinho –
Não. O CDS é um partido fundador da democracia e é feito de gente muito boa. Aquilo que irá mesmo ocorrer será uma clarificadora separação de águas.

Jornal de Mafra – O que é que na sociedade portuguesa propiciou o surgimento de partidos populistas? 
Luís Marinho –
Esses partidos enveredaram pelo discurso fácil. Eu podia dizer-lhe que queria um hospital construído aqui em Mafra, eu podia ter dito isso, mas se o fizesse não seria sério, seria um discurso fácil e irresponsável, mas que infelizmente diz alguma coisa às pessoas, quando elas não pensam duas vezes.

A revista da Câmara de Mafra parece a capa da revista do jornal “Expresso”, com aquelas ferramentas de comunicação tudo é mais fácil

Jornal de Mafra – E em Mafra, as oposições têm assumido o seu papel?
Luís Marinho –
A oposição têm um trabalho muito meritório num contexto muito difícil, onde é fácil para a maioria nem responder ou nem ouvir aquilo que tem origem nas diversas sensibilidades políticas do concelho.

Tantos anos de um só partido no poder provoca este efeito perverso.

Jornal de Mafra – Não reconhece alguma inação e falta de preparação das oposições?
Luís Marinho –
Os meios de comunicação à nossa disposição também jogam aqui um papel importante e se é verdade que devemos ser contidos nos meios que urtilizamos, pelo respeito que nos merece o erário público, a verdade é que por termos menos meios, não comunicamos.

Repare, a revista da Câmara de Mafra parece a capa da revista do jornal “Expresso”, com aquelas ferramentas de comunicação tudo é mais fácil.

Jornal de Mafra – Como olha para o panorama da comunicação social no concelho de Mafra e para a equidade de tratamento, ou para a falta dela, por parte dos poder político local?
Luís Marinho –
A melhor forma de o poder político tratar a comunicação social é com equidade, ter um tramento igual para todos.

Nesta matéria, a palavra chave é equidade e se ela não existir, no limite criam-se suspeitas, porque se o jornal A tem um apoio diferente do jornal B, naturalmente que as pessoas pensarão que o mais apoiado terá a obrigação de ser mais contido na forma como informa.

Embora não passe de um juizo de valor, sinto que em Mafra existem diferenças na forma como se tratam alguns órgãos de comunicação social, portanto, havendo uma entrevista ao Presidente da Câmara, com perguntas que convidem a um certo raciocínio que o favorece politicamente, os leitortes pensarão que, provavelmente, haverá ali algum convite ao facilitismo, enquanto outros farão outro tipo de perguntas. Mas esta é uma simpes perceção, não tenho nada em concreto.

Jornal de Mafra – O CDS vai crescer no concelho?
Luís Marinho –
O CDS vai crescer no concelho de Mafra. Não tenho o dom de advinhar o futuro e o voto é dos mafrenses, mas tenho confiança no crescimento do CDS.

Jornal de Mafra – Há confiança, mas também há sinais?
Luís Marinho –
Os sinais são os que resultam do diálogo que temos com as pessoas, mas é como já disse, os votos são dos mafrenses.

 

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